Segunda parte do texto que começa AQUI
Quando falamos em “voz de peito”, pensamos em um som cheio, “voz plena”, vibração na cavidade torácica, notas graves, e o contrário vale para a “voz de cabeça”, que relacionamos a sons mais agudos com maior leveza.
Quando falamos em “voz de peito”, pensamos em um som cheio, “voz plena”, vibração na cavidade torácica, notas graves, e o contrário vale para a “voz de cabeça”, que relacionamos a sons mais agudos com maior leveza.
Porém, pensar na voz apenas desta
forma, nos coloca em situações complicadas. Se voz de peito cria a sensação de
vibração no peito, e soa firme, por que uma voz suave, na mesma nota grave,
mantém a vibração? Se “falsete” é a extensão do agudo, que soa fraco e “falso”
(elimine a expressão “voz falsa” da sua mente), como pode existir o “falsete
reforçado”, qual a diferença disso pra "voz de cabeça"?
Aqui entra o segundo sistema,
responsável pelo nível de adução da glote.
Enquanto o TA interno (com aquele comentado problema da definição confusa) teria a
função de "encurtar" a prega vocal, deixando a nota mais grave, o TA externo aumentaria a adução (fechamento glótico) deixando o som mais "encorpado", mais "pesado", e junto
dele estão os CAL e os IA (aritenóideos oblíquos e transversos). Essas subdivisões NÂO ESTÂO COMPROVADAS e todos os estudos mais sólidos tratam isso como suposição, bem aceita, mas suposição. Algo como o Big Bang vocal.
E os CAL, além de girar as cartilagens aritenóideas, fechando a ponta da parte posterior da glote tem mais alguma função?
Segundo Chhetri e Neubauer publicaram em 2016, Os CAL isolados teriam um poder de controlar as frequências produzidas bastante limitados, algo entre Ré 2 e Mi 2 (145 - 165 Hz), sim, 1 tom apenas. Entretanto, ao serem acionados em conjunto com os TAs, eles funcionam como assistentes, possibilitando que o músculo vocal faça as alterações de nota desejadas pelo cantor.
Vamos ao TA e sua infinita complexidade...
Em 1998, Ira Sanders e equipe investigaram o TA humano, e encontraram os compartimentos superior e inferior, mostrando uma possível ação diferente dos dois.
Procurei o Dr. Sanders, que de forma muito simpática respondeu algumas dúvidas, e segundo ele, foi observado que a parte inferior do Vocalis (TA interno) contrairia, encurtando as pregas vocais. Já o compartimento superior seria formado por inúmeros "pedacinhos de músculo". Ainda há muito a ser estudado sobre isso, e existem dificuldades técnicas ainda. Essa parte superior, poderia, por exemplo, alargar a borda da prega vocal durante a fonação (produção do som), o que aumentaria a massa, gerando um som mais firme ou talvez não.
Daí a confusão de função de TA interno e externo talvez, na verdade o TA seria dividido em 3 partes, não em duas.
Percebe-se que ainda é um campo aberto para pesquisas mais aprofundadas.
Na imagem vemos um corte frontal de uma prega vocal, note que não há barreira entre TA interno e externo, o mesmo músculo possui diferentes áreas com diferentes funções cada:
M = muscularis, ou o TA externo, tireomuscular
SV = Vocalis Superior = TA interno superior, tireovocal superior
IV = Vocalis Inferior = TA interno inferior, tireovocal inferior
VF = Prega Vocal
LV = Vestíbulo laringeo (o "bolsão" que se forma entre as pregas vocais e as vestibulares)
FVF = Pregas Vestibulares
O oposto da adução é o trabalho realizado pelos CAP, que abduzem o mecanismo, e graças a eles, nós respiramos. (obrigado por existir!!!)
E os CAL, além de girar as cartilagens aritenóideas, fechando a ponta da parte posterior da glote tem mais alguma função?
Segundo Chhetri e Neubauer publicaram em 2016, Os CAL isolados teriam um poder de controlar as frequências produzidas bastante limitados, algo entre Ré 2 e Mi 2 (145 - 165 Hz), sim, 1 tom apenas. Entretanto, ao serem acionados em conjunto com os TAs, eles funcionam como assistentes, possibilitando que o músculo vocal faça as alterações de nota desejadas pelo cantor.
Vamos ao TA e sua infinita complexidade...
Em 1998, Ira Sanders e equipe investigaram o TA humano, e encontraram os compartimentos superior e inferior, mostrando uma possível ação diferente dos dois.
Procurei o Dr. Sanders, que de forma muito simpática respondeu algumas dúvidas, e segundo ele, foi observado que a parte inferior do Vocalis (TA interno) contrairia, encurtando as pregas vocais. Já o compartimento superior seria formado por inúmeros "pedacinhos de músculo". Ainda há muito a ser estudado sobre isso, e existem dificuldades técnicas ainda. Essa parte superior, poderia, por exemplo, alargar a borda da prega vocal durante a fonação (produção do som), o que aumentaria a massa, gerando um som mais firme ou talvez não.
Daí a confusão de função de TA interno e externo talvez, na verdade o TA seria dividido em 3 partes, não em duas.
Percebe-se que ainda é um campo aberto para pesquisas mais aprofundadas.
Na imagem vemos um corte frontal de uma prega vocal, note que não há barreira entre TA interno e externo, o mesmo músculo possui diferentes áreas com diferentes funções cada:
M = muscularis, ou o TA externo, tireomuscular
SV = Vocalis Superior = TA interno superior, tireovocal superior
IV = Vocalis Inferior = TA interno inferior, tireovocal inferior
VF = Prega Vocal
LV = Vestíbulo laringeo (o "bolsão" que se forma entre as pregas vocais e as vestibulares)
FVF = Pregas Vestibulares
O oposto da adução é o trabalho realizado pelos CAP, que abduzem o mecanismo, e graças a eles, nós respiramos. (obrigado por existir!!!)
Pensando nos sons tradicionais
dos registros vocais, uma “voz de peito” teria um bom nível de firmamento glótico com um comprimento de prega vocal não muito estirado. Uma “voz de
cabeça” seria um som com menor resistência muscular e pregas vocais mais
alongadas.
Concorda que estamos lidando com
2 conceitos diferentes? Grave e agudo depende de uma coisa, "leve" e "pesado" depende de outra coisa (não confundir com volume e intensidade). No momento em que colocarmos tudo no mesmo pacote um(a)
cantor(a) terá problemas de realizar notas agudas com “pegada”, pois,
inconscientemente, o movimento de encurtar pregas vocais e de aumentar a
resistência muscular estarão conectados, impedindo o agudo. Nesses casos a
solução encontrada normalmente é aumentar a pressão de ar, e aí o estrago está
feito.
Separar as ações do TA pode ser o primeiro passo pra resolver esse problema. Apesar de já ser algo conhecido pela ciência vocal há algumas décadas, para o canto isso é mais recente. Não posso afirmar que seja o primeiro pois podem haver trabalhos anteriores que não conheço ou não me recordo, mas o dinamarquês Daniel Zangger Borch foi um dos pioneiros a trazer de forma explícita esses conceitos para a pedagogia vocal em seu livro "Ultimate Vocal Voyage", de 2007, e certamente isso aconteceu pois ele, além de cantor, é pesquisador de voz, tendo até trabalhos publicados em conjunto com Sundberg sobre "dist tones" (os vocais distorcidos, conhecidos no Brasil como drives) e formantes em cantores de rock. Hoje essa distinção já é menos rara, e diversos professores de canto trabalham dessa forma, inclusive no Brasil.
Herbst, doutor em pedagogia vocal, pesquisou diferentes tipos de adução, e em 2011 publicou artigo diferenciando duas formas distintas que devem ser treinadas para a produção de timbres diferentes na voz de acordo com o estilo cantado. Essa mudança de maior ou menor adução aconteceria em notas graves ou agudas, que ele coloca no artigo como "registro peito" ou "falsete", conforme figura abaixo.
Herbst, doutor em pedagogia vocal, pesquisou diferentes tipos de adução, e em 2011 publicou artigo diferenciando duas formas distintas que devem ser treinadas para a produção de timbres diferentes na voz de acordo com o estilo cantado. Essa mudança de maior ou menor adução aconteceria em notas graves ou agudas, que ele coloca no artigo como "registro peito" ou "falsete", conforme figura abaixo.
Um cantor equilibrado terá todos
esses músculos bem treinados e os sistemas independentes.
Como resolver e estudar isso?
Entram os Modos de Fonação, que comento AQUI. Por
hora, o importante é saber separar frequência (tensão de pregas vocais) de
nível de resistência glótica (adução/abdução).
Consciência massa Mauro. Desassociar intensidade de frequência, a nível glótico. Muito bom! Principalmente em conhecer esse TA interno, nunca tinha ouvido falar. Fiquei pensando num coisa. Nosso sistema muscular é formado por fibras do tipo 1 e do tipo 2. Uma é mais resistente a fadiga e mais lenta e outra é mais rápida porém mais fraca. Entre o TAE e o TAI procede essa distinção?
ResponderExcluirCuidado com a palavra intensidade, ela se refere a volume, níveis de Db, mas imagino que esteja usando intensidade pra falar da característica mais firme do som.
ExcluirSobre as fibras do TA, nunca li nada fazendo essa diferenciação, talvez haja, e talvez tenha alguma mudança na proporção, mas acredito que não muito, pois ambos são músculos de ação mais rápida, com a função primária de proteção da laringe, diferente dos CAP ou CT.
Mas agora você me deixou curioso e vou pesquisar, hehehe
Max, agora dá pra responder sua pergunta.
ExcluirUm estudo, também de Sanders, encontrou mais fibras lentas no parte superior do TA interno, o que ajuda a manter a estabilidade da nota. Segundo o estudo, é uma adaptação evolutiva do ser humano, já que os outros mamíferos não possuem essas fibras lentas no TA.
Obrigado pela pergunta!!!
Obrigado pelo feedback Mauro. #tamujunto abraço.
ExcluirMauro, a fonoaudióloga Silvia Pinho no livro Músculos Intrínsecos da Laringe e Dinâmica Vocal apresenta uma organização muito interessante da distribuição de fibras musculares na laringe. Também o livro Voz: O Livro do Especialista organizado pela fonoaudióloga Mara Behlau desenvolve sobre isso. Achei correlações interessantes.
ResponderExcluirMirna, prazer ter vc aqui no site.
ExcluirSão ótimas referências. Algumas coisas ainda falta tecnologia pra poder afirmar 100%, mas dá pra inferir bastante coisa com o que temos!