Você, que frequenta este site e
se aprofunda no estudo de canto, já está cansado de ouvir falar em TA, CT,
adução, abdução, etc., mas às vezes isso pode ser um pouco, ou muito, confuso.
Tenho alguns textos sobre
anatomia e fisiologia da laringe (que você pode encontrar no menu ao lado), mas
agora vou me aprofundar mais nesse tema, retomando a palestra que ministrei para
o 1º Congresso Brasileiro Online de Voz Cantada.
Todos vocês já sabem que lá
dentro estão as pregas vocais, que são dobras musculares, que quando vibram
mais rápidas fazem notas mais agudas e quando têm ciclos de vibração mais
lentos emitem notas mais graves, vulgarmente chamadas de som fino e som grosso.
Aqui vale comentar que na
fisiologia e na acústica não existem notas altas e baixas, o que muda é a
velocidade dos ciclos (das pregas vocais ou ondas sonoras). Inconscientemente,
essa percepção equivocada leva muitos cantores a se esticarem pra alcançar as
“notas altas”, criando tensão e prejudicando a liberdade laríngea. A Idea de
altura vem das partituras, onde as notas mais agudas são escritas em linhas
superiores no pentagrama e as graves nas linhas inferiores.
Onda sonora: Na primeira linha, temos mais ciclos por segundo, gerando frequências mais agudas que na segunda |
Voltando.
Eu gosto de pensar na laringe
como a junção de dois sistemas que devem ser distintos e independentes, e
quando não o são, criam problemas como as “quebras na voz” ou limitações de
notas, é o que acontece com expressões como “voz de peito” e “voz de cabeça”,
que são cheios de significados específicos mas empregados de forma generalista.
Um desses sistemas é responsável
pelo controle de frequência de vibração, a velocidade da vibração das pregas
vocais, que comentei acima.
Todos sabem que a contração de TA
(par de músculos tireoaritenóideos) “encurta” a prega vocal e CT (par de músculos
cricotireóideos) as “alonga”, mas não é só isso, e deve-se tomar muito cuidado
aqui.
Estamos falando na tensão das
pregas vocais, e muita coisa está envolvida.
Primeiro, é importante entender que
o TA é dividido em 2 partes: tireovocal (interno) e tireomuscular (externo). Cada
uma dessas partes faz uma coisa diferente. Para o controle de frequência, o TA
interno é o que nos importa (alguns estudos dizem que é o externo, outros o
interno, mas deixo essa questão para a ciência resolver), é essa parte que
contrai diminuindo o comprimento das pregas vocais (para as notas graves).
Os músculos CAL (par de músculos cricoaritenóideos
laterais) também poderiam contribuir, com os graves mais graves, mas falaremos mais
sobre eles no segundo sistema.
Para deixar as pregas vocais
alongadas, e as notas mais agudas, além de uma ação predominante dos CT sobre
os TA internos poderíamos solicitar a ação de um par de músculos que têm como
função primária abrir espaço na laringe para que possamos respirar, são os CAP
(par de músculos cricoaritenóideos posteriores). Quando ativados, além de
realizarem a abdução (abrir a glote), eles poderiam, segundo o Dr. Hollien, proporcionar um alongamento extra
das nossas pregas vocais se conseguirmos ativar apenas parte de seus feixes.
A ação de CAP se opondo aos IA, TA e CT, é vital para quem canta notas hiperagudas, e foi notada em 1972 (Thomas Gay e equipe) e depois abordado novamente em artigo de 1979 de Hary Hollien, que disse que qualquer ideia de que a tensão das pregas vocais analisada somente por TA e CT deveria ser considerada incompleta. Entretanto, ainda hoje é utilizada, seja de forma pedagógica para simplificar aos alunos não tão interessados na fisiologia ou por quem não conhece essa hipótese.
Os músculos aritenoideos - IA (ou interaritenóideos) também são acionados nos hiperagudos, como constatado pelo professor Hirano, um dos responsáveis pela laringologia moderna, em 1980, mas no estudo não foi medida a ação dos CAP, então não é possível saber se há relação nos dois movimentos.
É preciso tomar cuidado com as cartiilagens aritenóides aqui. Woodson e seus colegas de Memphis, terra do Elvis, estudaram a ilusão causada pela adução (aproximação) dessas cartilagens. No estudo deles de 1997, a adução posterior (fechamento na parte de trás da glote) abaixa a parte das cartilagens que estão ligadas à membrana das pregas vocais. Isso visto em uma lideolaringoscopia, por causa do ângulo de filmagem, faz parecer que houve um super alongamento das pregas vocais pra trás, que na verdade foi de apenas 1 mm em média no estudo. Talvez daí a importância dos CAP. IA dá uma segurada e CAP puxa trás trás pra não cair pra frente... Saberemos um dia...
Importante frisar que esse mecanismo de alongamento "CAP+IA" não é 100% comprovado, mas seu conceito é algo aceito por grandes cientistas da voz, como o Prof. Ingo Titze, que em estudo publicado em 2016 disse que além do alongamento das pregas vocais, uma outra ação seria mais eficiente, levando as notas para regiões mais agudas, independente do tamanho da laringe ou espaço para alongamento, que é limitado por questões físicas, variando entre os indivíduos.
Segundo o professor, aumentar a densidade do ligamento das pregas vocais aumentaria a tensão da "corda" e possibilitaria esses ajustes, e o melhor, segundo o próprio estudo, é que isso pode ser alcançado com treino vocal, através de manobras como o alongamento. Hirano em 1980 também falou que aumento de adução aumentaria a frequência emitida, talvez isso aumente a densidade do ligamento vocal? Quem sabe? Muito a se estudar ainda.
Visão dos feixes dos CAP por trás, a flecha A indica o feixe que deveria ser contraído para aumentar o alongamento das pregas vocais. |
Os músculos aritenoideos - IA (ou interaritenóideos) também são acionados nos hiperagudos, como constatado pelo professor Hirano, um dos responsáveis pela laringologia moderna, em 1980, mas no estudo não foi medida a ação dos CAP, então não é possível saber se há relação nos dois movimentos.
É preciso tomar cuidado com as cartiilagens aritenóides aqui. Woodson e seus colegas de Memphis, terra do Elvis, estudaram a ilusão causada pela adução (aproximação) dessas cartilagens. No estudo deles de 1997, a adução posterior (fechamento na parte de trás da glote) abaixa a parte das cartilagens que estão ligadas à membrana das pregas vocais. Isso visto em uma lideolaringoscopia, por causa do ângulo de filmagem, faz parecer que houve um super alongamento das pregas vocais pra trás, que na verdade foi de apenas 1 mm em média no estudo. Talvez daí a importância dos CAP. IA dá uma segurada e CAP puxa trás trás pra não cair pra frente... Saberemos um dia...
Importante frisar que esse mecanismo de alongamento "CAP+IA" não é 100% comprovado, mas seu conceito é algo aceito por grandes cientistas da voz, como o Prof. Ingo Titze, que em estudo publicado em 2016 disse que além do alongamento das pregas vocais, uma outra ação seria mais eficiente, levando as notas para regiões mais agudas, independente do tamanho da laringe ou espaço para alongamento, que é limitado por questões físicas, variando entre os indivíduos.
Segundo o professor, aumentar a densidade do ligamento das pregas vocais aumentaria a tensão da "corda" e possibilitaria esses ajustes, e o melhor, segundo o próprio estudo, é que isso pode ser alcançado com treino vocal, através de manobras como o alongamento. Hirano em 1980 também falou que aumento de adução aumentaria a frequência emitida, talvez isso aumente a densidade do ligamento vocal? Quem sabe? Muito a se estudar ainda.
Essa representação de uma prega vocal mostra o ligamento vocal, que é formado pelas camadas intermediária e profunda (intermediate e deep) da lâmina própria. |
Ainda existem imagens de cantores super agudos que conseguem "fechar" parte das pregas vocais, deixando a parte que vibra menor, e consequentemente, mais rápida (aguda). Em 1955 Pressman e Kelemen descreveram o que chamaram de efeito de amortecimento, ou Damping Effect. Durante este efeito, a porção posterior das pregas vocais aduz e esse fechamento vai se estendendo para a parte anterior, como que em um zíper, deixando apenas uma porção menor das pregas vocais livres para a vibração, o que funcionaria como pinçar uma corda de instrumento quando se quer tocr uma nota mais aguda. Atualmente é muito comum ver tal técnica sendo treinada em países como a Itália.
O Dr. Mattias Echternach (Alemanha) estudou os hiperagudos de cantoras e encontrou diversas configurações glóticas para as mesmas regiões, desconfiando da importância da ressonância para a produção dessas notas e até mesmo de uma possível segunda fonte sonora. O certo é que ainda há muito a ser estudado para cravar que nota A a musculatura se comporta de um jeito, nota B de outro. Claro que um treino pode escolher umas dessas opções e direcionar as ações musculares, o que ao mesmo tempo é mais prático para o estudo e desenvolvimento e limitante para as possibilidades e individualidaddes sonoras. São os paradigmas da pedagogia vocal no estágio em que vivemos, onde ainda há muito a se descobrir.
Já o CT é formado por 3 feixes. Sanders e sua turminha estudaram ess músculo em 1998 e observaram que por baixo dos feixes oblíquos e retos existem os feixes horizontais. Segundo o o que se sabe até agora, o feixe o feixe reto serve para aproximar as cartilagens, levantando a cricóide e abaixando a tireóide e deixando nossa voz mais aguda. O feixe oblíquo teria uma relação com a função respiradora do CT, puxando a cartilagem tireóide para frente. Já o feixe horizontal, não se sabe, tanto é que quase ninguém fala dele.
Pronto... pronto nada... O mesmo Ira Sanders nos mostrou um outro músculo, o cricotireofaringeo (CTF). No estudo ele não pôde afirmar muito, mas hipotetizou que seria um músculo estabilizador das juntas e cartilagens. O CTF seria algo exclusivo dos humanos e sua função seria altamente relacionada à fala e ações mais especializadas que nós temos em relações a outros animais. Que mais será que ele faz?
São muitas formas de ir além do comum, e um bom método de treino de canto precisa estar atento às diferentes possibilidades para não restringir a habilidade e expressividade dos cantores.
Veja que não estou falando sobre registros vocais tradicionais, esqueça "voz de peito" e "voz de cabeça" aqui. São termos recheados de significados estéticos que estão começando, timidamente, a cair em desuso, apenas falo sobre notas graves e notas agudas e o que a ciência tem de mais atual sobre o tema.
O Dr. Mattias Echternach (Alemanha) estudou os hiperagudos de cantoras e encontrou diversas configurações glóticas para as mesmas regiões, desconfiando da importância da ressonância para a produção dessas notas e até mesmo de uma possível segunda fonte sonora. O certo é que ainda há muito a ser estudado para cravar que nota A a musculatura se comporta de um jeito, nota B de outro. Claro que um treino pode escolher umas dessas opções e direcionar as ações musculares, o que ao mesmo tempo é mais prático para o estudo e desenvolvimento e limitante para as possibilidades e individualidaddes sonoras. São os paradigmas da pedagogia vocal no estágio em que vivemos, onde ainda há muito a se descobrir.
Já o CT é formado por 3 feixes. Sanders e sua turminha estudaram ess músculo em 1998 e observaram que por baixo dos feixes oblíquos e retos existem os feixes horizontais. Segundo o o que se sabe até agora, o feixe o feixe reto serve para aproximar as cartilagens, levantando a cricóide e abaixando a tireóide e deixando nossa voz mais aguda. O feixe oblíquo teria uma relação com a função respiradora do CT, puxando a cartilagem tireóide para frente. Já o feixe horizontal, não se sabe, tanto é que quase ninguém fala dele.
Pronto... pronto nada... O mesmo Ira Sanders nos mostrou um outro músculo, o cricotireofaringeo (CTF). No estudo ele não pôde afirmar muito, mas hipotetizou que seria um músculo estabilizador das juntas e cartilagens. O CTF seria algo exclusivo dos humanos e sua função seria altamente relacionada à fala e ações mais especializadas que nós temos em relações a outros animais. Que mais será que ele faz?
CTF pontilhado entre o CT e o "CP" (CF - cricofaringeo, em inglês) |
Veja que não estou falando sobre registros vocais tradicionais, esqueça "voz de peito" e "voz de cabeça" aqui. São termos recheados de significados estéticos que estão começando, timidamente, a cair em desuso, apenas falo sobre notas graves e notas agudas e o que a ciência tem de mais atual sobre o tema.
CLIQUE AQUI para ver o segundo sistema que atua na fonte sonora.
Excelente, profs!
ResponderExcluirSomou demais, muito obrigado.
ResponderExcluirLINDOS!
ResponderExcluirVc e o artigo
super me interessa esses assuntos...
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