Esta é a terceira parte de um texto que começou AQUI
Uma pergunta que me foi feita:
“Formante é uma
ferramenta pra medir o canto lírico?”
Não. Formante é um pico de energia em uma região do espectro
sonoro, ele define vogais, define timbre e tudo mais relacionado a som, seja no
canto (qualquer um), na fala, nos instrumentos musicais e em áreas fora do mundo musical. Em
1938 James Jeans já falava em formantes.
Alguns pesquisadores da acústica vocal descobriram que a voz
tem maior eficiência quando formantes e harmônicos estão sintonizados. Isso
amplifica o som ou enfatiza determinada característica do timbre da voz e
aprimora a interação entre ressonância e fonte sonora (pregas vocais),
reduzindo o esforço.
Sintonizar formante, ou sintonizar vogal, é fazer com que o
pico do formante esteja ressoando na mesma frequência de um dos harmônicos
escolhidos, e dependendo de qual, um som diferente vai acontecer.
Simplificando, você pode pensar que a vogal (formante) ajuda a amplificar
determinada nota (harmônicos) ou característica de timbre.
Voce Vista com a vogal /a/. Na metade de baixo, os picos de formantes isolados, na de cima, as linhas dos harmônicos sendo moldadas pelos picos |
Um programa de análise acústica mostra isso de forma bem
simples como no print screen que vocês
podem ver do programa Voce Vista, mostrando os harmônicos acima e os formantes
abaixo, perceba que na imagem de cima os harmônicos formam montes mais altos
quando há um pico de formante.
É importante perceber que não existem frequências exatas de
formantes para cada vogal, mas regiões, como podemos ver nas tabelas abaixo. O que nos mostra que diferentes posições de trato podem
ser percebidas como um mesmo som, e mais, nos mostra que mesmo pessoas com
anatomias distintas conseguem, por ação dos articuladores, modificar como soa,
alterando a “cor natural” da voz, utilizando a “cor desejada”.
regiões dos formantes F1 e F2 das vogais na fala e também dos instrumentos musicais |
F1, F2 e F3 em varias vogais, que você pode comparar com a figura do Voce Vista que gravei acima. |
Exemplos de sintonização de vogais abordados por estudos
como os de Schutte e Miller (1993) e de LeBorgne (2001) são os cantores de
elite de belting, que mostram que F1 (prImeiro formante) fica na altura de H2
(segundo harmônico) , e eles fazem isso elevando a laringe. O resultado é um
som poderoso sem a necessidade de aumentar a adução das pregas vocais, fazendo
o belting com “registro misto” (músculos trabalhando em conjunto, porém com
predominância de TA sobre CT) e não “de peito” (TA sendo forçado), como alguns
imaginam.
Abrir mais a mandíbula em vogais abertas como /a/ ajuda
nesse caso, principalmente em notas hiperagudas, tanto no canto lírico como em
estilos populares. Em vogais fechadas, como /u/ e /o/ abrir os lábios resolve e
nas vogais /i/ e /e/ deve-se ampliar os espaços na cavidade oral, aplainando a
língua. Dessa forma, F1 continuará acima da nota fundamental, mesmo em vogais
que possuem primeiros formantes mais graves.
Aqui vale uma observação importante feita pelo Dr. Sundberg:
Muitos professores de canto alarmam que laringe elevada equivale a risco vocal,
porém, estudos nos mais diversos estilos musicais, até mesmo em sopranos de
ópera encontram esse ajuste sendo utilizado, e mesmo assim suas carreiras são
longas e bem sucedidas.
Não entenda isso como “cante sempre com a laringe alta, o
Mauro falou que é melhor”. Não, laringe alta tensa é prejudicial, causa
hiperfunção e pode gerar microtraumas na musculatura, que cobrarão seu preço ao
longo do tempo. Porém, em determinados casos, como quando se quer um som de
timbre mais agudizado, é uma opção a ser considerada. (não confundir laringe
alta, socada na base da língua, com laringe elevada).
A última parte deste artigo você pode ler clicando AQUI.
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