Algumas estéticas de canto podem querer maior destaque no terceiro harmônico após a região de passagem TA – CT, como é falado por outro cientista vocal, Dr. Hubert Noé, nesse caso, uma laringe mais estabilizada é o desejado, e as vogais soarão menos estridentes. Isso é conseguido deslocando F2 para H3 (em vogais fechadas, como /i/ e /u/, F2 sintoniza com H4). Nesse estilo de mix, as vogais são aproximadas, distanciando-se das extremidades e aproximando-se de vogais mais neutras, como o nosso querido "schwa", a vogal com som oral de â. Pense em cantar todas as vogais sem se destanciar muito desse som, a boca aqui não será aberta com um sorriso, e nem terá uma abertura tão exagerada como no belting.
Mas formantes não atuam sozinhos, e nem se conectam apenas com harmônicos, eles podem atuar em conjunto, criando um agrupamento (ou cluster) dos formantes F3, F4 e F5
chamado de "formante do cantor". Um recurso utilizado por cantores líricos, que
gera aumento enorme na intensidade dos harmônicos que estão próximos da região de 2500Hz
fazendo com que suas vozes atravessem as orquestras e consigam ser ouvidas pelo
público sem necessidade de amplificação.
Agrupamento de formantes não é só coisa de cantor de ópera,
acontece também com atores e cantores de estilos mais próximos a fala (até
mesmo no pop, rock, jazz, country, etc.), nesse caso o aumento de potência
ocorre ao redor de 3500Hz com a aproximação de F4 e F5, e sua função é o
aumento da inteligibilidade do texto, segundo o Dr. Dejonckere, e não do volume
(estilos musicais de canto amplificado não precisam de aumento de
volume/intensidade).
Stivie Wonder, Bruce Dickinson, Idina Menzel Luciano Pavarotti, Steven Tyler, Angela Gossow e suas bocas. |
O importante disso tudo é que o termo formante nada mais é que a forma como a ciência vocal chama as ressonâncias, e ressonância é resultado da movimentação dos articuladores. Sempre que um professor fala em palato, posição de laringe, língua, abertura de boca, espaço faríngeo, nasalidade, escolhe alguma vogal específica (ou sua forma) para determinado exercício, etc. ele está falando sobre realinhar formantes, de forma consciente ou inconsciente. Melhor se for consciente, pois ele vai ter mais facilidade em identificar que o que falta para determinado ajuste ser bem feito pode algo simples como abrir ou fechar a boca, colocar a língua mais pra frente, mais alta, mais baixa, etc., além do trabalho na laringe.
Falei aqui sobre diversos aspectos acústicos da voz, e de
sua relação com a anatomia e fisiologia do trato vocal, e até mesmo da
musculatura extrínseca da laringe (pescoço, ombros, cabeça, e tudo que se
conecta à laringe de fora), que pode modificá-lo. Alguns autores relacionam os
formantes também à movimentação da musculatura intrínseca da laringe (aquela
que está dentro da laringe, como TA, CT, CAL, CAP, AA, etc.), o que é óbvio,
pois cada movimento desses músculos alteram também o formato do trato vocal,
que altera a vibração das pregas vocais (como descrito por Sundberg, com
réplica do texto na primeira parte deste artigo), que altera a pressão
sub-glótica e todo o ciclo, nos mostrando, mais uma vez, que a voz é o conjunto
de um todo, não apenas parte A ou B. A laringe parece comandar todo o
mecanismo, mas as demais partes a influenciam e podem acabar com seu desempenho
ou aprimorá-lo.
Seria possível afirmar também que a importância dos
formantes aumenta em estilos de canto não amplificados, como o lírico, pelo
fator impulsionador da intensidade, porém não devemos negligenciar seu papel na
construção de timbres e estéticas vocais. A única verdade final e absoluta na
ciência, é que ela vai mudar um dia, devemos estar atualizados e abertos a tudo
que possa nos ajudar
Bons estudos, e espero que estejam cheios de dúvidas, assim como eu!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário