Para o primeiro texto do ano escolhi um tema bem
interessante e comum.
Frequentemente ouço dos alunos que eles querem estudar,
entre outras coisas, para perder o medo de cantar ou falar em público, muitos afirmam
ter boa técnica vocal, mas que na hora H a voz não sai como nos treinos e
ensaios.
Quase todo artista já passou por situações desagradáveis
antes de apresentações, sentindo coisas como: suor de odor forte, vontade de
urinar, aumento da pulsação cardíaca, ausência ou excesso de apetite, mãos frias
e úmidas, face vermelha, etc.. Muitos aceitam isso como reações naturais e
aprendem a conviver com essas manifestações, sabendo que dará tudo certo no
fim.
Uma pesquisa rápida pela internet vai mostrar diversos
textos e vídeos dizendo que para resolver esse problema basta estar preparado e
relaxar, mas será que é só isso? Em 2008 Berghs escreveu uma artigo sobre os
tipos de reação que o medo de palco causa nos cantores.
O pesquisador definiu esses três tipos como sendo:
desrealização mental, aumento de tono muscular e decréscimo do tono muscular,
cada um desses tipos tem um efeito diferente nos cantores, e consequentemente,
uma forma diferente de lidar e resolver, vamos aos tipos e como contorná-los:
Desrealização Mental:
Aqui o cantor se sente desconectado da realidade, algo como um transe, em que
muitas vezes sente como se estivesse fora do próprio corpo. Traduzindo, é
aquele cara que está “viajando” (desconsidere essa opção quando houver
substâncias estranhas envolvidas). É nesse momento que “dá o branco”, e não
passa nada pela cabeça.
Se esse é o seu caso, o autor refere que alguns cantores
mentalizam ordens do tipo “fique aqui”, “acorda”, (uns tapas na cara, quem
sabe? hehe) etc. para conseguirem manter um estado de concentração e aumentar o
nível de lucidez para a hora do show. E esse deve ser o foco, manter o estado
de atenção, às vezes começando esse processo horas antes de cantar. Pensando
numa ótica de funcionamento cerebral, ative o córtex frontal (responsável pela
ação mais consciente) fazendo contas matemáticas e atividades que te deixem
ligado. Exercícios de coordenação com mãos e pés podem ajudar.
Aumento de tono
muscular: Esse é o famoso “travei”. É uma excitação tão grande que pode
constringir o
corpo todo, incluindo ombros, pescoço, laringe, rosto, etc. Aí
você já sabe o resultado disso na voz. Pessoas assim podem inspirar muito
repetidamente, ficam mais falantes e a voz com mais volume, o que vai causar
maior cansaço vocal e reduzir a quantidade de harmônicos no som (som de voz
presa, sem brilho, sem graça). Nesse estado as notas agudas serão um martírio e
o cantor pode até acelerar o andamento da música, cantando fora do tempo.
Aqui sim vale o conselho, relaxe. Faça alongamentos na
cintura escapular (ombros e pescoço), tranquilize a respiração, exercícios de
expiração longa (tradicionais SSS longo, ZZZ longo, etc.).
Tono muscular
reduzido: “Subi no parco as perna fico
até bamba, sabe?”, pois é, se você já disse algo do tipo, preste atenção.
O cantor com esse tipo de reação não se mexe, a respiração
fica fraca e superficial, o som soproso e sem vigor, é como se estivesse
cantando com a pressão arterial em queda livre. Fica fraco e sem emoção.
Solução aqui é despertar o corpo, exercícios de inspiração
profunda, mover o tronco, subir escadas, exercícios físicos (moderados, não vá
se cansar), até uns pulinhos ajudam. Respirar calmamente e relaxar? Só se você
quiser apagar de vez.
Entender qual tipo de reação você têm é o essencial, em tudo
na vida e no canto, não existe receita pronta, não existe “isso funciona para
todos”. Tente perceber qual a sua versão de “medo de palco” e aí você saberá
como lutar contra ele. Fuja da tensão se você do tipo que “trava”, faça
movimentos se você fica mole, “ligue” seu cérebro se você “viaja”, assim você
vai conseguir se manter focado e pronto para o que deve ser feito, e o treino
não será perdido por esse momento pré-show.
Em último caso, saiba que esse medo termina após as
primeiras notas e a diversão começa. O importante é saber qual a melhor forma
de combater os efeitos mencionados, só dizer “relaxe e respire calmamente” pode
piorar as coisas e não melhorar. Cada forma de “medo” pedirá uma abordagem
diferente, assim como cada forma de problema de técnica vocal.
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