Estou de volta ao blog para postar uma série com um dos temas mais controversos e solicitados, o Belting. Para isso, resolvi convidar um grande especialista e pesquisador no assunto, que estudou nos EUA e aprendeu tudo sobre essa forma de produção vocal lá na fonte.
O texto que segue é de Luciano Simões Silva e é a primeira parte apenas. Ele vai abordar assuntos desde a pedagogia, fisiologia, mercado brasileiro, etc.
Espero que gostem.
Mauro Andrea.
"O Ensino e a Pedagogia Vocal da Técnica Belting: Introdução
A técnica vocal conhecida como belting ou belt é tradicionalmente utilizada por cantores nos musicais produzidos na região da Broadway em Nova York e se difundiu pelo mundo graças à popularidade sempre crescente destas produções. Além disso, esta técnica está presente em maior ou menor grau em vários gêneros populares norte-americanos, como a música pop, o jazz e o gospel.
Com a chegada destas produções no Brasil há mais de dez
anos, um mercado emergente de profissionais ligados a esta área se fez
necessário. Este crescente mercado está pressionando as instituições de ensino
e os professores de canto a se preparar melhor para ensinar e formar cantores
profissionais que possam se adequar ao repertório de teatro musical
norte-americano.
Em São Paulo há vários espetáculos de teatro musical
sendo apresentados a cada semana. Este gênero veio para ficar e está se
firmando comercialmente dentro de uma sociedade alheia à cultura do musical, e
que, portanto, não tem escolas de canto apropriadas para este gênero. É comum
se verificar que atores-cantores têm formação e treinamento em técnicas muitas
vezes não compatíveis ao repertório. Há casos em que o artista não tem nenhuma
formação como cantor, muito menos como cantor belter. Nas seleções e audições, produtores e diretores dão
preferência a atores ou a cantores com forte background em teatro, e a técnica vocal é colocada em segundo
plano. Em muitas produções há uma paleta de técnicas, maneiras e estilos de
cantar. Ainda há poucos preparadores vocais brasileiros com formação nesta
área. Nos EUA, por ser parte essencial de sua cultura musical, tanto os
cantores pop como os cantores líricos
cantam e conhecem o repertório tradicional do teatro musical desde cedo.
Na área de canto no Brasil, tanto lírico como popular,
ainda há pouca compreensão do que seja o canto belting. Muitos professores ainda não tem informação suficiente
para lidar com esta técnica e por isso mesmo não podem suprir a demanda dos
alunos que precisam estudá-la. No entanto, a chance de um aluno de canto ser
contratado no futuro para uma produção de teatro musical está crescendo muito,
sem contar que o número de produções de musicais ultrapassam em muito as
produções de ópera. A falta de informação e principalmente de interesse da
grande maioria dos professores de canto tende a prejudicar os próprios alunos,
já que estes irão encontrar um mercado cheio de oportunidades no campo do
teatro musical e oportunidades muito limitadas (como sempre) no campo da ópera.
Os professores precisam se convencer que precisam de maior trânsito de
informações relacionadas a esta técnica. Felizmente não é o caso de dizer que
professores de técnica belting
inexistem em São Paulo. Há sim, e dois ou três muito bons, mas as exceções
apenas confirmam a regra.
Talvez o mais complicado seja o fato de que por ser uma
cultura importada, os próprios produtores não tem ideia a quem recorrer, e
contratam como preparadores vocais muitas vezes profissionais despreparados
para dar sustentação técnica a atores que nunca ou pouco cantaram. Existem bons
cantores, mas é comum ver e ouvir produções em que cada um canta de um jeito,
com variações que vão de lírico ao popular.
A primeira coisa que tem que ficar clara quanto ao belting é a seguinte: uma pessoa não
começa cantando belting. É necessária
muita técnica vocal, treinamento muscular e respiratório, resistência física e
vocal para se cantar belting. A
musculatura intrínseca da laringe trabalha mais que no canto lírico, o controle
respiratório é intenso e o ajuste do trato vocal é específico. Outra coisa que
tem que ficar clara: técnicas como o SLS não são adequadas, já que o “mix” não
é belting e pode até prejudicar quem
quiser cantar um pensando que é o outro.
Como já disse, é importante entender que a diferença é
cultural, portanto o método de aprendizagem tem que preencher esta lacuna
cultural. É necessário entender que na média, o ator brasileiro teve pouco
contato com o canto, e quando teve geralmente foi em espetáculos de teatro
musicado ou musicais de MPB, nos quais se usa técnica de canto popular, que não
são adequadas para os musicais da Broadway. Já o ator norte-americano
provavelmente canta desde a adolescência (quando não desde a infância) em
corais de escola e/ou igreja, teve aulas de canto, e estas aulas de canto foram
de alguma maneira de técnica lírica ou baseadas na técnica antiga italiana.
Cantar com um vibrato contínuo e saudável e voz vibrante e cheia (de
harmônicos) é, para os americanos, absolutamente normal. O mundo do musical é
uma necessidade para o ator. Ele sabe que terá que cantar mais cedo ou mais
tarde e por isso se prepara. Esta realidade só agora aparece para os atores
brasileiros.
Na próxima coluna falarei mais especificamente sobre como
pode ser a didática e a pedagogia vocal para o aluno de belting. Até!"
Muito bacana a série, Mauro. Parabéns! Mas hei de interpelar em prol de algo que foi mal compreendido (ou transmitido) no texto do Luciano. O SLS (ou melhor dizendo: o MIX de maneira geral) capacitam, sim, o cantor a atender às expectativas e demandas do belting. O treino em MIX condiciona as musculaturas intrínsecas da laringe às diversas aplicações necessárias para um belter, possibilitando a esse um maior controle do seu trato vocal (e das vogais selecionadas), imprescindível na configuração de formantes e harmônicos (o que diferirá e definirá o belting). Essa, claro, é minha visão, pelo fato de estar vendo de dentro do SLS e das instituições que ensinam o MIX. Ademais, um abraço e sucesso sempre! O blog está muito bom.
ResponderExcluirTa, mas o que é o belting? Para que serve? como funciona?
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