terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Cantar com emoção - Parte 1

Sempre pergunto aos meus alunos qual o objetivo deles nas aulas, o que eles querem desenvolver, aprimorar, onde querem chegar. “Ser afinado”, “cantar mais agudo”, “fazer drive”, “melhorar o vibrato”, “cantar sem me machucar”, são algumas das respostas, mas qual seria o objetivo final de todo cantor?

Dean Kaelin, professor de canto autor do método conhecido como MIX, diz que o objetivo de todo cantor é ouvir “WOW, você é demais”, “canta muito”, “você é o cara” (não era o RC?), etc. e não “nossa, que afinação precisa”, “entendi com clareza tudo o que ele cantou”, “você viu só como esse cara respira bem?”. E eu devo concordar com ele, ninguém quer que seu canto transpareça um trabalho técnico e frio, ou não deveria querer.
O que todo cantor quer é ser apreciado pelo conjunto, tocar quem ouve, e isso pode ser em um show, uma ópera, um musical, um karaokê, a si mesmo cantando no chuveiro (ou toda a vizinhança). O que meus alunos procuram é cantar com emoção, ter a capacidade de transformar a música em uma mensagem que atinja o ouvinte e o comova das mais variadas formas, e é esse o tema deste post, o tal do “feeling”.

Cantar com feeling, é exatamente o que a palavra que dizer: cantar com emoção, transformar as palavras em algo maior do que o texto, e é isso que faz a diferença, é isso que faz um cantor se tornar genial ou não, essa capacidade de passar o sentimento para quem ouve.

Imagine que você vai contar uma estória infantil para um filho, um sobrinho, uma criança qualquer. Quando você a lê em voz alta, não fala as palavras de qualquer jeito, você tenta criar vozes para os personagens, dar mais ênfase em uma parte, menos em outra. Chega o lobo mal, a voz já fica mais assustadora, a vovozinha é mais doce e gentil, a menininha tem voz aguda e o lenhador tem voz de buzina de navio. Você tenta dar uma cara mais rica e mais interessante para o texto. E eu duvido que faça duas vezes da mesma maneira, sempre terá algo novo e diferente pra fazer a cada leitura, e é exatamente isso que se faz quando pensamos em interpretar uma canção, dar mais ou menos carga dramática em determinadas partes para que aquele texto ganhe vida e fique com “a nossa cara”.

O que torna um contador de histórias melhor do que outro? Primeiro sua técnica, pois não adianta ele querer criar vozes, climas, situações com a voz se ela não souber responder, o mesmo vale para um ator ou cantor, e é por isso que o treino de técnica vocal é tão importante, mais, é vital. 


Como disse no início, não queremos ser reconhecidos pelas nuances técnicas, queremos comover o público, mas a emoção não aparece se a técnica não é apurada, a emoção não surge quando não temos fôlego para uma frase, quando a nota sai desafinada, quando há quebras no nosso timbre, quando os efeitos vocais não são feitos na hora e na maneira correta, quando há tensão ou moleza no nosso aparelho fonador ou quando cansamos nossa voz a toa e desenvolvemos problemas de saúde vocal (estou devendo um texto sobre eles.Vai sair, prometo.). A técnica não é nosso objetivo final, mas é a ferramenta que vai possibilitar que o sentimento apareça de forma livre e natural.

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