segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Acústica no canto, o poder do trato vocal. Parte 1

Este é o primeiro de dois textos de um tema muito interessante, complexo e repleto de mal -entendidos. Espero que tenha conseguido deixa-lo o mais leve e didático possível sem comprometer as informações. Qualquer dúvida ao final dessa série podem postar nos comentários que terei o maior prazer em responder.

Já parou pra pensar como é possível um cantor lírico solista ser ouvido mesmo com uma orquestra e um coral soando ao mesmo tempo? E aqueles locutores ou cantores que tem a voz "aveludada", como conseguem ter um timbre tão bonito? E aqueles cantores de música infantil que fazem vários tipos de vozes diferentes? Vamos ser mais básicos ainda. O que acontece pra um som de Á virar som de Ê, ou qualquer outra vogal?

Essas perguntas descrevem uma série de resultados da acústica. Lembra aquela matéria que você teve no colegial, mas que nunca ninguém deu uma utilidade pra ela? Pois aqui a acústica faz toda a diferença. Você não precisa saber exatamente de tudo para cantar, mas se seu professor de canto souber, por melhor que ele já seja, o dará mais ferramentas e formas de abordagem para ajudar você a desenvolver sua voz. Explico.
Representação da onda sonora
Primeiro vamos relembrar as frequências e os ciclos de vibração. Cada ciclo de movimento de "abre e fecha" das pregas vocais faz com que o ar, que vem dos pulmões passe e pare, passe e pare, etc., emitindo pulsos. Esses ciclos, que duram milissegundos, vão produzindo os sons. Quanto mais rápido esse ciclo (ou quanto mais ciclos por segundo) mais aguda a nota emitida. Ok, podemos chamar essa nota de frequência, e essa frequência é medida em Hertz, quanto mais hertz, mais agudo, e para cada oitava que cantamos mais aguda o número de hertz (ou de ciclos de vibração. No nosso caso, vibração das pregas vocais) dobra. Um “Lá” depois do “Dó” central (aquele à direita da chave do piano, ou que na partitura fica entre a clave de “Fá” e de “Sol”) é produzido com 440 Hz, o “Lá” uma oitava acima com 880 Hz, uma oitava abaixo do primeiro teria então? Exato, 220 Hz, e por aí vai.

Oitava: Explicando vulgarmente, é a oitava nota de uma escala de notas que não repetem os nomes (chamada diatônica), por exemplo: Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, tem 7 notas, a oitava seria o Dó seguinte. O nome se repete e a frequência dobra.
Essa frequência inicial, que queremos produzir é conhecida como frequência fundamental. Mas ela não sai sozinha.


Quem já estudou teoria musical provavelmente já ouviu falar em série harmônica. Quando emitimos uma frequência, seja na voz ou em uma guitarra, um piano, um trompete, um violino, etc., emitimos muito mais que a nota que desejamos. Junto dessa frequência fundamental, inúmeros outros harmônicos ressoam, múltiplos dessa que quisemos emitir, eles são notas que acompanham a fundamental. Ex: Cantamos uma frequência em 100Hz, os harmônicos soando junto estão em 200, 300, 400, 500 Hz, etc., formando o timbre final do som.

Vamos pensar em um piano. Digamos que você toque uma nota “Dó”, além desse “Dó” outras notas ressoaram juntas. Na série harmônica, que é responsável pelos nossos estudos de harmonia na música (acordes maiores, menores, acorde com sétima, acorde com decida terceira aumentada, etc.) os harmônicos da nota fundamental vão aparecendo como múltiplos inteiros, em oitavas, quintas, terças, etc. e formando o timbre da nota. Estudos mostram que para cada oitava acima de harmônico ressoando junto com a frequência fundamental o volume decresce em 12 dB até sumir, mas podemos manipular isso.

Ah, então os harmônicos são responsáveis por um violão soar como violão, uma voz como uma voz, um trombone como trombone, uma gaita de fole como a conhecemos, e assim por diante? Exato. O ataque também é importante, mas a discussão não é essa, hehe. Um som sem harmônicos seria aquele sonzinho chato de MIDI que tem nas trilhas sonoras de vídeo games dos anos 80. 

Clique AQUI para ver a segunda parte

7 comentários:

  1. não compreendi muita coisa, mas o pouco que a absorvi vai me ajudar com certeza.. obg Mauro, vc o cara!

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    1. Obrigado Herbert.

      Realmente esse é um tema bastante complexo, talvez fique mais fácil compreender lendo os outros textos sobre ressonância (http://www.estudiodevoz.com.br/search/label/Resson%C3%A2ncia).

      E sempre que quiser, estou à disposição para aplicarmos de forma prática essa teoria toda nas aulas aqui no meu estúdio ou online, por Skype.

      Abs!!!

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  2. Olá,
    Eu costumo emitir e segurar uma nota... Bem, fiz isso com o DÓ5. Uso aqueles aplicativos que medem a frequência simultaneamente: Vocal Pitch Monitor, Da Tuner e o Canta. Pude observar as seguintes situações:
    1) O Vocal Picth plotou duas linhas ao mesmo tempo, como se eu estivesse emitindo duas notas, não lembro mas creio que eram oitavas.
    2) Quando segurei o C5, o Vocal Pitch e o DaTuner acusaram 520hz. No entanto, o Canto (Windows) alternava para 1000 e pouco (até mesmo 2000 e pouco) - conferi que seria um C6 e C7 respectivamente.

    Seriam estes casos os harmônicos sendo captados?

    Agradeço muito.

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    1. Tudo bem Ayr?

      Os harmônicos são sempre captados, são eles que produzem a riqueza de timbres.
      O segundo harmônico produzido é a oitava acima da nota que cantamos, e ele pode ser emitido com maior intensidade que o primeiro, e talvez o programa se confunda se não for um específico para analise acústica, como éo caso dos que vc mencionou.

      Dependendo do caso é possível fazer com que um dos harmônicos se destaque e soe como uma segunda nota também.

      Sobre os programas usados, é difícil comentar sem ver o que aconteceu, mas tem que ver a calibragem do programa, do microfone, etc.
      Se você emitir um harmônico que se destaca, certamente vai ouvir essa outra nota.

      Abs!!

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    2. Olá,

      Agradeço a sua resposta. Continuo analisando e percebo harmônicos acima da fundamental, tanto pela indicação dos aplicativos, quanto pelo espectograma (apps), bem como pela minha percepção. Adicionalmente, o Maestro identificou riqueza de harmônicos na minha voz. A nota emitida parece bem mais aguda do que a nota emitida. Inclusive, tenho "segurado" a voz no Coro pra tentar equalizar, o que acaba me engessando. Sou Mezzo Soprano.
      Estou lendo sobre Formantes :)

      Grata pela sua atenção.


      Abraços

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  3. Oi Mauro obrigado por postar. Você pode sugerir alguma biografia sobre este assunto para minha pesquisa. Acústica da voz etc. Abraço!!!!!

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    1. Oi Sonia, o livro mais completo sobre o tema é do Sundberg, ciência da voz cantada. A partir desse vc consegue outras fontes boas.

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