Vocês já ouviram falar nesses
nomes mencionados no título? E
em “Voz plena”, “Pure Belting”, “Half Belting”, “Whisper Voice”, Speech Voice? E
tantos outros que existem por aí.
Esses nomes todos são denominações
dos sub-registros, estéticas ou mesmo registros da voz, e, se você notar, são quase todos
em inglês. Mas o que eles são de fato? Por que existem?
Já comentei aqui sobre o momento
histórico que vivemos no mundo da ciência vocal. Com os estudos e avanços
surgindo a cada dia, os métodos e formas de trabalhar a voz aparecem e se
renovam o tempo todo, o que causa uma grande variedade de metodologias de
ensino, principalmente no canto, e material publicado.
Parece bom, não é?
De certa forma, isso possibilita aos
estudantes, e mesmo professores, escolher a forma de aprender e ensinar que
mais os agradam. Algumas dão mais importância para a respiração, outras para a
fonte produtora da voz, outras para o controle de acústica, outras para a
sensoriedade abstrata, outros para vibração e ressonância, tem até quem não dê atenção a
nada e espera que o “talento” resolva.
Existem as mais diversas formas
de estudar e de cantar, muitas delas funcionam e são realmente boas e
ministradas por gente que sabe de verdade o que está fazendo, outras servem
apenas para enriquecer seus autores e não levam em consideração a saúde vocal,
a ciência da voz e as possibilidades do corpo humano.
Tal heterogeneidade é muito
interessante, porém perigosa, e pode trazer problemas que confundem muita
gente. Esses nomes todos são um desses problemas, e o que piora ainda mais a
situação é que qualquer um pode criar um nome para divulgar seu método e
torná-lo “exclusivo”, e se tiver o marketing necessário, talvez um livro lançado
ou cantor famoso divulgando, a denominação aparece como sendo a grande
maravilha do século, mesmo que não traga nada de diferente do que já se conhece.
Se pensarmos nos registros vocais (ou seja lá como quiser chamá-los) como consequência do comportamento muscular da laringe (há quem os veja como consequência da ressonância, ou quem considere apenas o resultado sonoro, e muitas outras vertentes de pensamento),
veremos que esses músculos podem se comportar de maneira quase isolada ou em
conjunto, como já comentei nos posts sobre REGISTROS VOCAIS 1, 2, 3 e 4, e mais aprofundado no texto sobre os MODOS DE FONAÇÃO. Os nomes
todos citados no começo deste texto nada mais são do que nomes bonitinhos para
essas configurações somados a ajustes do trato vocal. Por exemplo: O tal do “Belting”, que recebeu esse nome por
parecer gritado originalmente, no final das contas nada mais é do que um registro mais "pesado" (ou
voz de peito, ou mix peito, sub-registro do Registro Modal, com predominância do músculo
TA e com alto quociente de fechamento das pregas vocais, etc.) levado ao agudo, e com alguns ajustes no trato vocal que deixam o som com uma sonoridade até mais estridente, e é tido por quem não o conhece de fato como sendo "perigoso para a voz", sim, óbvio, se não fizer corretamente tudo pode ser perigoso; Speaking Voice é a famosa “voz
de cabeça”, predominância do músculo CT (quociente de fechamento glótico
reduzido). E se pensarmos nas variações possíveis de voz mista, com TA e CT
agindo em conjunto e com quociente de fechamento dividido, hora com domínio de
um músculo, hora de outro, teremos uma infinidade de possibilidades sonoras, e
uma variedade ainda maior de nomes diferentes para as mesmas coisas.
É como se alguém resolvesse
chamar uma cadeira de “blengous”. Seria um nome novo e estranho, mas continuaria sendo uma cadeira. A diferença é que quando você visse um
anúncio dizendo, “Experimente blengous, uma nova sensação de conforto”, certamente chamaria
mais sua atenção do que "sente nessa cadeira". Não se deixe levar pelo marketing! O canto não tem segredo, não tem mistérios, truques, mágicas, fuja das fórmulas milagrosas, canto não é "Disque Compras da TV", ninguém inventou uma majestosa nova maneira de se cantar. Existem formas adequadas de desenvolver a voz baseando-se no tipo de som que o cantor quer fazer e formas distintas de atingir esse som de forma não prejudicial.
É importante saber como cada registro
ou sub-registro vocal é chamado por aí, quais seus “nomes”, “apelidos”, etc.,
mas mais importante, é saber o que são de fato, e como desenvolvê-los (note que
não disse encontrá-los, pois a voz não se encontra de repente, ela se aprimora aos
poucos com treino e prática).
O papel dos professores de canto
deveria ser o de facilitar a vida dos alunos, e não buscar autopromoção em
estratégias de marketing ou falsas inovações, como em métodos “revolucionários”
que clamam ser diferentes, mas são recheados de técnicas conhecidas há 300
anos.
O ciclo de vibração da prega vocal. Perceba as fases de pregas fechadas (A), começando a se separar (B), abertas (C) e voltando a fechar (D)
Nota: Falei aqui sobre o quociente
de fechamento das pregas vocais (ou glótico).
Cada vibração de prega vocal é
realizada em um ciclo, onde elas estão abertas, então se fecham e se abrem.
Quanto mais rápidos esses ciclos ocorrem, mais agudo o som, certo?
Durante um ciclo de vibração (aberto,
fechado, aberto) as pregas vocais podem ficar mais tempo fechadas, mais tempo
abertas ou em um movimento mais equilibrado. Não sei se fica fácil de
compreender isso, mas isso é o quociente de fechamento. Quando, em um ciclo de
vibração, as pregas vocais ficam mais tempo fechadas que abertas esse quociente
é alto, quando elas ficam mais tempo abertas que fechadas, o quociente é baixo,
fala-se também em quociente de abertura alto.
O efeito sonoro é simples: Quanto
maior o quociente de fechamento mais “pesado” e “firme” será o som, que torna
um som de baixo quociente de fechamento, como a “voz de cabeça” “leve” e
“suave”.
Espero ter ajudado!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário